Em entrevista ao DA Saúde, Coimbra de Matos, Psicanalista Didacta, define os psicanalistas portugueses como uma «comunidade científica e técnica activa e prestigiada na área profissional» e adverte que o sector carece de um «espaço de diálogo com outras disciplinas científicas e de recursos para a investigação psicanalítica».
DA – Defina-me psicanálise?
CM – Como ciência, é o estudo da subjectividade e intersubjectividade; como terapia, a transformação do estilo relacional patológico e patogénico num estilo relacional criativo e sanígeno (através do processo de mudança da repetição para a inovação – em termos técnicos, da transferência para a nova relação).
DA – Qual, no seu entender, tem sido o desenvolvimento desta área desde Freud?
CM – Da teoria pulsional para teoria relacional – dos instintos para a aprendizagem.
DA – Quem precisa deste tipo de tratamento?
CM – Pessoas em que a repetição de um padrão relacional insatisfatório de instalou.
DA – A psicanálise é aplicável a qualquer pessoa?
CM – Desde que haja ou se possa construir um mínimo de consciência reflexiva, é dizer, auto-crítica e auto-análise.
DA – Como se ensina a fazer psicanálise?
CM – Pela análise pessoal, análises supervisadas e curso teórico-clínico.
DA – Quais as características que tem de ter um psicanalista?
CM – Honestidade intelectual, generosidade, empatia e sensibilidade ao sofrimento humano.
DA – Ainda há, na sociedade portuguesa, o receio de assumir que se está a fazer psicanálise?CM – Muito pouco.
DA – Este método tem vindo a tornar-se, cada vez mais, adoptado face a que patologias?
CM – As neuroses em primeira linha; as depressões, em segundo lugar, as perturbações borderline, em terceiro; alguns casos de psicose.
DA – Como define a comunidade de psicanalistas em Portugal?
CM – É uma comunidade científica e técnica activa e prestigiada na área profissional, do ensino e da investigação e com significativa intervenção sócio-cultural – de que é um exemplo este ciclo de conferências “Psicologia e Outros Saberes”.
DA – Quais as principais carências/dificuldades do sector?
CM – Espaço de diálogo com outras disciplinas científicas e de recursos para a investigação psicanalítica.
DA – Qual é a mais-valia da psicanálise face a outras terapêuticas?
CM- O aprofundar do conhecimento da história relacional do paciente e do seu estilo relacional vigente, origem e base da sua identidade, conduta social e sentimento subjectivo. É na relação de intimidade psíquica partilhada – desenvolvida na cura analítica - que a mudança real do padrão de relação consigo próprio e com os outros se processa, catapultando o analisando para uma visão do mundo e de si mais aberta, expansiva e criadora, com benefícios evidentes na capacidade de realização pessoal e colectiva.
sábado, 12 de maio de 2007
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3 comentários:
Enche a alma "ouvir" este grande Senhor da Psicanálise.
Simples, sucinto, objectivo, complexo, abrangente e incisivo, por caminhos caracterizados pelo seu difícil acesso...
Obrigada, Doutor Coibra de Matos!
Boas...
Excelente entrevista!
O facto de ser curta (pequena) tem dois problemas: o facto de querer mais e o facto de não o obter... Se dispensam elogios essas palavras eu não dispenso formalizá-los...
Forte abraço ao Mestre que nos anima e incentiva nessa busca de aprimorar o saber, ou a presunção dele, constantemente, em busca do alívio do sofrimento...nosso e dos outros. Torna-te quem tu és dizia o filósofo! Gratidão ao Mestre
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