sábado, 12 de maio de 2007

Entrevista de Coimbra de Matos ao Diário de Aveiro (9 de Maio)

Em entrevista ao DA Saúde, Coimbra de Matos, Psicanalista Didacta, define os psicanalistas portugueses como uma «comunidade científica e técnica activa e prestigiada na área profissional» e adverte que o sector carece de um «espaço de diálogo com outras disciplinas científicas e de recursos para a investigação psicanalítica».


DA – Defina-me psicanálise?

CM – Como ciência, é o estudo da subjectividade e intersubjectividade; como terapia, a transformação do estilo relacional patológico e patogénico num estilo relacional criativo e sanígeno (através do processo de mudança da repetição para a inovação – em termos técnicos, da transferência para a nova relação).

DA – Qual, no seu entender, tem sido o desenvolvimento desta área desde Freud?

CM – Da teoria pulsional para teoria relacional – dos instintos para a aprendizagem.

DA – Quem precisa deste tipo de tratamento?

CM – Pessoas em que a repetição de um padrão relacional insatisfatório de instalou.

DA – A psicanálise é aplicável a qualquer pessoa?

CM – Desde que haja ou se possa construir um mínimo de consciência reflexiva, é dizer, auto-crítica e auto-análise.

DA – Como se ensina a fazer psicanálise?

CM – Pela análise pessoal, análises supervisadas e curso teórico-clínico.

DA – Quais as características que tem de ter um psicanalista?

CM – Honestidade intelectual, generosidade, empatia e sensibilidade ao sofrimento humano.

DA – Ainda há, na sociedade portuguesa, o receio de assumir que se está a fazer psicanálise?CM – Muito pouco.

DA – Este método tem vindo a tornar-se, cada vez mais, adoptado face a que patologias?

CM – As neuroses em primeira linha; as depressões, em segundo lugar, as perturbações borderline, em terceiro; alguns casos de psicose.

DA – Como define a comunidade de psicanalistas em Portugal?

CM – É uma comunidade científica e técnica activa e prestigiada na área profissional, do ensino e da investigação e com significativa intervenção sócio-cultural – de que é um exemplo este ciclo de conferências “Psicologia e Outros Saberes”.

DA – Quais as principais carências/dificuldades do sector?

CM – Espaço de diálogo com outras disciplinas científicas e de recursos para a investigação psicanalítica.

DA – Qual é a mais-valia da psicanálise face a outras terapêuticas?

CM- O aprofundar do conhecimento da história relacional do paciente e do seu estilo relacional vigente, origem e base da sua identidade, conduta social e sentimento subjectivo. É na relação de intimidade psíquica partilhada – desenvolvida na cura analítica - que a mudança real do padrão de relação consigo próprio e com os outros se processa, catapultando o analisando para uma visão do mundo e de si mais aberta, expansiva e criadora, com benefícios evidentes na capacidade de realização pessoal e colectiva.

3 comentários:

Anônimo disse...

Enche a alma "ouvir" este grande Senhor da Psicanálise.
Simples, sucinto, objectivo, complexo, abrangente e incisivo, por caminhos caracterizados pelo seu difícil acesso...
Obrigada, Doutor Coibra de Matos!

João Castanheira disse...

Boas...

Excelente entrevista!
O facto de ser curta (pequena) tem dois problemas: o facto de querer mais e o facto de não o obter... Se dispensam elogios essas palavras eu não dispenso formalizá-los...

GeVargas disse...

Forte abraço ao Mestre que nos anima e incentiva nessa busca de aprimorar o saber, ou a presunção dele, constantemente, em busca do alívio do sofrimento...nosso e dos outros. Torna-te quem tu és dizia o filósofo! Gratidão ao Mestre